Annes Dias 166

O BAR

O balcão de atendimento é o coração de um bar - e também a alma. Se por um lado existe toda uma questão prática e burocrática que o cerca - o balcão define o funcionamento, o caixa, os horários, o fluxo das bebidas - por outro é onde é possível falar e interagir com os clientes. E assim entender, verdadeiramente, como um bar funciona, sua essência. No IAB, minha primeira experiência como dono de bar. o balcão foi de imediato o local que escolhi para ser minha base. Era meu lugar de trabalho preferido: eu recebia os clientes, servia os drinques, supervisionava a cozinha, comandava os garçons, montava a agenda de shows, atendia no caixa, lavava copos e, principalmente, determinava a trilha sonora. Auxiliado por dois tape-decks, um toca-discos e pela generosidade infinita de amigos e frequentadores, eu ali podia exercitar todo meu gosto pela música, fazendo mixagens, seleções musicais e até dedicando faixas aos clientes que chegavam. Com o tempo, criei até uma cortina musical: sempre que eu tocava Fotografia, do Tom Jobim, cantada por Elis Regina, os clientes já sabiam que era a senha para o fechamento do bar.
E no dia seguinte tudo recomeçava.

HISTÓRIAS DO BAR

−E aí! Pega uma cerveja e senta aqui com a gente! Tu nem imagina o que aconteceu...
Nada com uma boa conversa de bar. Histórias mirabolantes e os casos mais curiosos e sensacionais!
Criamos essa mesa de bar virtual pra contar as Histórias do Bar do IAB. Se você souber de alguma manda prá nós que postaremos aqui. O texto não deve ultrapassar 730 caracteres. Envie para o e-mail: adcontrole@annesdias166.com.br - Assunto: Histórias do Bar do IAB.

1 "Havia um garçom que bebia. Muito. E, como todo bom bêbado, ele era hábil em descobrir locais onde poderia esconder copos e garrafas pelo bar e assim se abastecer durante a noite toda. O garçom obrigava Dirceu a ter uma dupla vigilância, no andamento do bar e no comportamento do garçom. Dirceu se esforçava, mas muitas vezes saía de lá exausto - e derrotado. O funcionário encerrava o expediente quase sempre embriagado."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

2 "Aquele garçom, bêbado, ameaçado de demissão várias vezes, continuava com seu vício. Numa delas, Dirceu não aguentou mais. Chamou o garçom, explicou os motivos e disse que não tinha mais como mantê-lo no emprego. Foi feito um acordo com todas as dividas trabalhista devidamente esclarecidas e acertadas. Isso não impediu que dias depois, Dirceu chegasse a tarde no bar e encontrasse o ex- garçom completamente bêbado - e armado. Por longos minutos, Dirceu foi ameaçado diante de outros funcionários e de uns poucos frequentadores. Um destes, o ator Oscar Simch, conseguiu se esgueirar pelo corredor, sair do bar e ir à delegacia que ficava na Rua da Praia avisar a policia. Tudo foi resolvido, e o garçom passou um período preso."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

3 "Sergio Silva, mais conhecido como Sérgio Caveira, foi conhecer o bar, gostou e prometeu levar pessoas que se identificassem com a proposta. Alguns dias depois, os integrantes do Teatro de Bonecos Cem Modos foram conhecer o local e decidiram produzir o primeiro dos pockets-shows de altíssima qualidade: O Menor Espetáculo da Terra, com participação do cantor e compositor Raul Eilwanqer."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

4 "O cantor Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, em temporada em Porto Alegre, apareceu certa noite para jantar por la sozinho, ele comeu, pagou a conta e foi embora. Depois elogiaria para amigos a qualidade da comida e o fato de não ter sido importunado por ninguém que lhe pedisse autógrafo."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

5 "Outro que passava por Porto Alegre era Paulinho da Viola. Estava olhando uns livros na livraria quando foi reconhecido por Dirceu. O proprietário se apresentou e convidou o músico para que voltasse a noite para jantar. Convite aceito, o sambista foi recepcionado por Dirceu e alguns amigos. Já no final, Dirceu perguntou se Paulinho se importava se ele acendesse um charuto. "Só não me importo se você me oferecer", respondeu. E passaram o resto da noite fumando no local."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

6 "Diego Russi com 9 anos de idade depois que saía da aula, ajudava no Caixa do Bar durante o almoço que era servido das 11:30 as 14:00 horas. Num dia muito movimentado, por conta própria, escreveu e colou na porta de entrada, fechada por ele, o cartaz: LOTADO SENTIMOS MUITO.
Ficamos sabendo por um cliente assíduo, inconformado com a situação que entrou para certificar-se. "
Dirceu Russi.

7 "Não só em Porto Alegre, mas em outros estados, jornais e revistas divulgaram a instalação do relógio ponto em um bar de Porto Alegre, até a editora encarregada de lançar um livro sobre a memória da Fábrica do Relógio Ponto se interessou pelo assunto, e consta lá na pagina 184 do livro Madis, 90 anos de inovação. O objetivo foi alcançado e o Relógio Ponto virou notícia mais do que era esperada. Os clientes se divertiam com a função de bater o ponto, e, que, com o tempo caiu no esquecimento, e foi fazer parte das Histórias do Bar do IAB."
Dirceu Russi.

8 "A Viva Produções, produtora comandada por Alice Urbim e Liqia Walper, fazia a divulgação dos eventos do IAB. E como elas também trabalhavam para a L&PM Editores, resolveram unir os clientes e organizar a sessão de autógrafos de Millôr Fernandes no IAB. Outro evento que contribuiu para consolidar a imagem do Bar do IAB foi o lançamento do LP Antologia Poética de Mario Quintana, com produção do publicitário Jesus Iglesias e a participação do próprio Quintana na sessão de autógrafos."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

9 "Sylvia Moreira e outros amigos costumavam se encontrar no local depois das sessões de análise. As consultas eram realizadas no edifício ao lado, reduto de vários consultórios de psicanalistas. Apelido do prédio: Gaiola das Loucas."
Márcio Pinheiro - Porto-alegrense e jornalista.

10 "História bizarra aconteceu no almoço servido no Bar, um assíduo e querido frequentador assim como muitos era Psiquiatra e reverenciado por colegas e pacientes, leva discretamente o prato que tinha sido servido e mostra para o Dirceu um intruso inseto. Dedetização realizada e mais ou menos 6 meses o cliente volta para almoçar no Bar, e o impossível acontece, novamente um inseto no prato. Meio sem graça leva o prato para o Dirceu constatar a terrível coincidência. Continuou frequentando o Bar, mas almoçar nunca mais."
Dirceu Russi.